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Posts Tagged ‘cultura popular’

Um espetáculo de violência na ponta do dedo: cortes e recortes de um gesto performático

28/01/2010 Comentários desativados

Scott Head
doutor em antropologia
GESTO | Universidade Federal de Santa Catarina

resumo No trabalho proposto, pretendo lidar com um sutil gesto performático que sintetiza o que antes era tido como um vasto espetáculo de violência. Este gesto, que se realiza no jogo ritualizado e luta dançada hoje conhecida como Capoeira Angola, sensivelmente reconecta o jogo a imagens históricas das gangues de capoeiras que uma vez aterrorizavam os pedestres ‘respeitáveis’ nas ruas da cidade do Rio de Janeiro: no caso, o gesto de cortar o pescoço do adversário com a ponta do dedo, como se fosse uma navalha – a arma preferida dos temidos capoeiras do passado. Fazendo uso da distinção de Diana Taylor (2003) entre ‘repertório’ e ‘arquivo’, ressalto a importância da forma sensível tomada por atos de rememoração, sejam estes gestuais, narrados, escritos e/ou imagéticos. No caso, longe de tratar o arquivo histórico como oferecendo uma representação mais ‘fiel’ à realidade histórica referida pelo gesto do corte no jogo da capoeira, trato ambos como formas distintas de apresentar, reinventar, e questionar a própria ‘realidade’ da violência (física e/ou simbólica) sendo retratada. Ao justapor ‘imagens’ do arquivo escrito com outras do repertório gestual da capoeira, busco ressaltar a ambivalência contida nas frestas entre corpo e signo, entre um ato lúdico e um espetáculo da violência, e entre a materialização performática de um certo imaginário social e a figuração ‘imagética’ da própria história.

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Os liminares dentro da liminaridade: matutos e feiticeiras nas performances dos Pássaros Juninos de Belém (PA)

28/01/2010 Comentários desativados

Eliane Suelen Oliveira da Silva
mestranda em antropologia
bolsista Cnpq
Universidade Federal do Pará

resumo Os Pássaros Juninos ou Melodrama-Fantasia são uma brincadeira popular paraense que, composta pelo conjunto de teatro, música e dança, é apresentada em espaços públicos e privados durante a época junina. Os papéis brincados são de nobres, índios, matutos, feiticeiras e seres encantados, além do pássaro e do caçador, que tenta abater o animal. As tramas passeiam entre o melodrama e o cômico, abordando questões como família, conflitos amorosos e religiosidade. A partir de instrumentais teórico-metodológicos propostos por Victor Turner em sua antropologia da performance, o objetivo da comunicação será o de prestar reflexões sobre esta brincadeira, destacando uma análise de personagens que possuem condutas liminares nas narrativas brincadas: os matutos e as feiticeiras. Os primeiros, que agregam comicidade às histórias, são zombeteiros, medrosos e repletos de vícios, mormente sexuais, expressos em diálogos que exploram o duplo sentido e a subversão. Ao mesmo tempo são ingênuos e facilmente manipuláveis, sobretudo pelas feiticeiras. Estas, por sua vez, são mulheres poderosas e vaidosas, que amedrontam e seduzem simultaneamente. Através da prática de rituais, que evocam a pajelança e a umbanda, promovem tanto benesses quanto desordem social. Trata-se, portanto, de uma análise dos liminares (matutos e feiticeiras) dentro da liminaridade (performances dos pássaros juninos), onde sugiro, subsidiada por Turner, que tal brincadeira é uma agência de reflexividade sobre a cultura paraense.

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Folias do Divino: um cortejo em performance ritual

28/01/2010 Comentários desativados

Jorge das Graças Veloso
doutor em artes cênicas
Universidade de Brasília

resumo Trata-se este de um estudo sobre o que poderiam ser definidos como invenção performática de novas práticas tradicionais em ritos espetaculares religiosos no entorno do Distrito Federal. Partindo de reflexões advindas dos processos de retradicionalização, são localizados, nesse ambiente, vários movimentos de criação de novas performances rituais, ou mesmo de re-significação de outras, antes consideradas extintas. Desdobramento das pesquisas concluídas em 2005, com a defesa da tese A Visita do Divino, é esta comunicação um debruçar-se sobre a criação de uma nova Folia do Divino Espírito Santo, no meio rural de Novo Gama – GO., a 30 km de Brasília. Este ritual segue os moldes da “recriação” das cavalhadas, não praticadas desde o início do Séc. XX, e da implantação de uma Procissão do Fogaréu, ambas em Luziânia, município também visinho ao DF. A Folia do Divino da Fazenda Choramar obedece aos mesmos princípios de um cortejo que, em procissões e evoluções espetaculares, vai de morada em morada até completar um giro de 360 graus, por dezenas de quilômetros, durante três dias. Ali, seus participantes, montados em seus cavalos, levam suas orações, seu espetáculo e sua fé, traduzidos em performance, individual e coletiva, em troca de pouso, comida e bebida, donativos ao santo e espaço para suas festas.

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A produção de subjetividade a partir de uma dança tradicional: o Mineiro-Pau de Salinas

28/01/2010 Comentários desativados

Luciana de Araújo Aguiar
mestranda em sociologia e antropologia
Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia | Universidade Federal do Rio de Janeiro

resumo Esse artigo examina a dinâmica de uma dança brasileira dita “tradicional”: Mineiro-Pau, que acontece na cidade de Nova Friburgo no estado do Rio de Janeiro. Através da análise dessa dança percebemos que ela ilumina, explicita ou implicitamente, aspectos importantes da vida social do grupo que a pratica. O objetivo desse artigo é, pois, através de uma descrição etnográfica da dança, mostrar como ela pode caracterizar aspectos da sociedade na qual ela está inserida.

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Mestre Dado e Deusa Minerva: uma performance de umbigada

28/01/2010 Comentários desativados

Eleonora Gabriel
mestre em ciência da arte
coordenadora da Companhia Folclórica do Rio
Universidade Federal do Rio de Janeiro
Frank Wilson Roberto
mestre em informática da educação
coordenador da Companhia Folclórica do Rio
Universidade Federal do Rio de Janeiro

resumo A Companhia Folclórica do Rio-UFRJ há vinte e três anos tem a missão e muito prazer de levar à UFRJ a sabedoria popular. Realizamos o evento Encontro com Mestres Populares na UFRJ, com o objetivo de trazer para dentro do campus, grupos folclóricos. Muita festa e, também, oficinas, discussões e confecção coletiva de carta-documento com reivindicações. Já participaram vários grupos, dentre eles, o Batuque de Umbigada de Piracicaba, Tietê e Capivari,SP. Preenchemos com os convidados um projeto de incentivo do Ministério da Cultura. Nossos amigos batuqueiros foram agraciados com o Prêmio Mestre Duda para as Culturas Populares e construíram o tão sonhado Barracão, um lugar da memória dos ancestrais e brincantes de hoje, um lugar para reunir, preservar e vadiar. Fomos convidados para a inauguração, e fomos. Um encontro, uma umbigada de alteridades que vira diversidade nos corpos de universitários e pedreiros, empregadas domésticas, trabalhadores agrícolas, todos reis e rainhas neste dia. Osvaldo Ferreira Merches, Mestre Dado, será o contador dessa história de umbigada e da performance do Batuque: “Esses meninos todos aqui. Eu me emocionei. O que vocês fizeram por mim, foi tudo de bom”. Será que ele, e o todo grupo, podem imaginar o que aquela vivência estava sendo para nós da UFRJ? O Mestre avisou: “Firma as pernas que nós vamos dançar muito”. E assim foi. Mestre Dado e Deusa Minerva (símbolo da UFRJ) brincaram e brincarão para sempre, numa bem firmada umbigada. Viva essa parceria!

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Pé de valsa: danças antigas de salão que contam histórias

28/01/2010 Comentários desativados

Valéria Maria Chaves de Figueiredo
doutora em educação
Universidade Federal de Goiás

resumo O presente trabalho teve como objetivo trazer a dança como arte da memória e expressa em corpos que dançam. Pesquisamos danças antigas e populares de Goiás, expressões quase que esquecidas e presentes apenas na memória de antigos moradores da região de Santa Cruz em Goiás. Foi na perspectiva da história oral que a inter-relação com a comunidade manifestou-se como condição fundamental para se apreender os modos, as histórias, os movimentos, as dramaturgias que marcaram estes cotidianos e sua arte. Estas danças resistiram como fragmentos na memória de antigos moradores, sem registros oficiais continuam, de certo modo, vivas na tradição da oralidade, particularmente nas memórias do corpo. Aprendidas em festas rurais, são danças de salão, da cultura caipira e eram realizadas nas fazendas da região. Entre mutirões e pagodes tinham o intuito de agregar, coletivizar experiências, ancorando-se nas trocas e nas relações afetivas, sociais e culturais. Ao longo dos anos foram proibidas e/ou desprezadas pela modernidade capitalista. Nossa intenção foi olhar para o corpo como um texto múltiplo e constituído de história, memória e arte. São poesias inscritas no cotidiano e na dança onde a presença de uma multiplicidade de diálogos se constitui como campo de conhecimento polissêmico, aberto, de muitas sensibilidades e humanidades. Nosso referencial teórico dialogou com diversos autores, entre eles Mario de Andrade, Regina Lacerda, Walter Benjamin, entre outros.

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A performance do olhar: a Congada de Santa Efigênia através do olhar de Johann Emanuel Pohl

28/01/2010 Comentários desativados

Sebastião Rios
doutor em sociologia
Universidade Federal de Goiás
Talita Viana
graduanda em
Universidade Federal de Goiás

resumo O trabalho apresenta o que e como o médico, botânico e mineralogista Johann Emanuel Pohl (1782 – 1834) viu na Congada de Santa Efigênia de Niquelândia GO à luz de uma pesquisa de campo atual sobre a mesma festa. Particularmente interessantes são também os valores, sentidos e significados que não foram por ele percebidos na festa, que é composta de cerimônias assaz ricas em significados difíceis de serem desvendados, alguns inacessíveis aos não iniciados, cuja complexidade passou despercebida a muitos de seus observadores e estudiosos – viajantes, folcloristas, etnógrafos, historiadores. O sentido dos versos cantados se completa na vinculação com a música, a dança e a performance de capitães e brincadores e remetem ao contexto do ritual e dos símbolos da festa, à sua dimensão sagrada.

A Congada de Santa Ifigênia remonta ao período da exploração de ouro nos tempos coloniais. Essa festa foi vista e descrita por Pohl em 1819, durante sua estadia no antigo Arraial de Traíras, hoje município de Niquelândia. Pohl fazia parte da expedição científica que acompanhou a comitiva nupcial da Arquiduquesa Leopoldina da Áustria, que desposou Dom Pedro I, então Príncipe Herdeiro. Ele tinha o perfil da maior parte dos viajantes que aqui estiveram: “naturalistas” que buscavam, sobretudo, conhecer a geologia, a flora e a fauna, não raro deixando também relatos sobre os fenômenos sociais e culturais com os quais se depararam.

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Sonoridades e performance no contexto ritual – o caso do candomblé queto

28/01/2010 Comentários desativados

Jorge Luiz Ribeiro de Vasconcelos
doutorando em Música
Instituto de Artes | Universidade de Campinas

resumo No contexto ritual das religiões afro-brasileiras música, rito e mito se articulam em uma complexa liturgia na qual uma série de elementos se agregam para compor performances rituais bastante expressivas. Partindo de um ponto de observação que enfatiza as percepções das sonoridades, ou seja, que mais do que musicológico se coloca como musical, observam-se intricadas e muito imbricadas relações entre sonoridades e movimentos corporais, momentos rituais, trechos de narrativas míticas e outros elementos desta complexa e estonteante trama sensorial que é uma Festa de Candomblé. A proposta desta comunicação é, através da descrição e análise de um momento ritual bastante específico, propor uma reflexão – e sugerir um apuro do foco perceptivo – sobre as articulações entre som, movimento, liturgia e mito, que compõem a expressão sensível das concepções religiosas, vivenciadas como performances, nos seus sentidos de “finalização de um processo” ou de algo que “completa uma experiência” (DAWSEY, 2007). O momento em questão é de um “transe de possessão” (ROUGET, 1985) do orixá Ogum, observado e documentado na casa de candomblé Ilè Asè Alaketú Omo Oyá Asè Osun, localizada na cidade de São Vicente, SP, em uma festa pública em homenagem ao orixá em questão. Compartilhar uma maneira musical de observá-lo e descrevê-lo, buscando elementos nos estudos da Antropologia da Performance para potencializar esta e futuras aproximações, é, portanto, a proposta central desta comunicação.

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As performances de trova galponeira em situações distintas: A roda de trova e os concursos

28/01/2010 Comentários desativados

Gisela Reis Biancalana
mestre em artes
Universidade Federal de Santa Maria

resumo O foco deste estudo foi uma manifestação artístico-cultural popular: a trova galponeira praticada no Rio Grande do Sul. A investigação destes acontecimentos performáticos, voltou-se para as diferenças observadas nas duas situações encontradas em pesquisa de campo: a roda de trova e os eventos competitivos. A Trova é uma poesia cantada no improviso. Suas performances são realizadas em desafio por dois ou mais trovadores e acompanhadas por músicos que tocam o acordeom. A roda de trova acontece a partir de formações espontâneas de trovadores, em acontecimentos festivos, ou em reuniões de amigos e familiares. Aqui as performances não têm tempo delimitado podendo estender-se por horas. O assunto vai tomando consistência até esgotar um dos desafiantes que propõe o verso de despedida, completado pelo adversário. Estas performances são marcadas pela alegria e liberdade de expressão. Existem também os eventos competitivos que possuem regras gerando cobranças de pontos. Estas performances, além de premiar financeiramente os vencedores, dotam-nos de status social perante o grupo. Elas são cobertas pela pressão dos jurados e dos adversários, o que provoca uma forte expectativa de acerto nos praticantes. Esta expectativa fomenta o esforço em busca da qualidade na elaboração da estrutura poética, bem como, na abordagem dos conteúdos. Assim, ao analisar suas performances notou-se que a trova gaúcha possui qualidades peculiares em cada uma das duas situações encontradas em campo.

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Mouros e cristãos em cena: teatro e devoção em Pirenópolis

28/01/2010 Comentários desativados

Céline Spinelli
mestre em antropologia
PPGSA | Universidade Federal do Rio de Janeiro

resumo No estado de Goiás, diversas cidades anualmente se mobilizam para a prática de uma manifestação popular bastante apreciada na região: as cavalhadas. Esta pesquisa focaliza o processo ritual na cidade de Pirenópolis, reconhecida pela sua tradicional festa eqüestre, hoje um ícone da cultura local. A cavalhada pirenopolina se estrutura em duas partes: na teatralização do mote mouros e cristãos, seguida de competição festiva. Iniciada no domingo de Pentecostes, a encenação se estende por três tardes, período ao longo do qual os cavaleiros são em campo acompanhados pela presença intermitente de um desordenado grupo de mascarados. A performance dos protagonistas, um conjunto de coreografias previamente ensaiadas, se baseia no aspecto visual e em uma marcante dimensão religiosa: ao codificar em cena valores francamente católicos e ao evocar em diferentes reprises o próprio Divino, os cavaleiros ocupam a posição de mediadores de um tipo de relação cosmológica. A experiência de vivenciar a cavalhada implica, portanto, compartilhar um momento de fé e de devoção ao Divino, sintetizado no caráter integrador do rito. Neste trabalho proponho enfocar o ápice do processo ritual, que corresponde aos três dias de encenação, a fim de observar sentidos implicados na ritualização posta em cena pelos cavaleiros pirenopolinos.

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